Exhortación que el Cardenal Fernando Filoni, Prefecto de la Congregación para la Evangelización de los Pueblos, ha dirigido a la diócesis de Funchal, en el archipiélago portugués de Madeira, donde ha presidido como Enviado Especial del Santo Padre Francisco, la celebración de clausura del quinto centenario de su creación. La celebración ha tenido lugar la tarde del domingo 15 de junio de 2014, solemnidad de la Santísima Trinidad, culminando la asamblea diocesana jubilar convocada en el estadio dos Barreiros (Fides ).
Homilia de Sua Eminência Cardeal Fernando Filoni no Jubileu dos 500 anos da criação da Diocese de Funchal
Solenidade da SS. Trindade
(15 de Junho de 2014)
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
Com estas palavras, começamos a nossa liturgia eucarística e, ao mesmo tempo professamos a nossa fé trinitária. Fizemos um pequeno gesto com a mão, tocando a fronte e o peito e, em seguida, os ombros esquerdo e o direito, quase a significar que queremos abraçar nesta fé trinitária toda a realidade do nosso ser.
Nesta solenidade litúrgica celebramos, segundo o ensinamento de Jesus, que revelou aos seus discípulos a natureza íntima de Deus, a comunhão de Três Pessoas, professada pela fé católica: creio em um só Deus, Pai todo-poderoso; creio em um só Senhor, Jesus Cristo; creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida. Jesus quis que nesta fé trinitária fossemos baptizados, ou melhor, imersos e nela vivêssemos.
Queridos irmãos e irmãs desta venerável Igreja do Funchal, sinto a alegria de estar aqui hoje convosco. É um prazer, nesta solenidade, partilhar e comemorar os Quinhentos Anos da criação desta vossa amada Diocese.
Saúdo cordialmente o vosso Bispo, S.E. Rev.ma Dom António José Cavaco Carrilho, a quem agradeço o caloroso acolhimento; os Bispos e o clero aqui presentes, o Sr. Núncio Apostólico e todas as Autoridades civis e militares.
O vosso Bispo, Dom António Carrilho, não queria que este importante evento passasse despercebido, e por isso, durante um triénio (2011-2014) programou momentos muito significativos de preparação espiritual e pastoral, bem como passou em revista o percurso histórico desta Igreja local. E é neste contexto que ele quis pedir ao Santo Padre, o Papa Francisco, a quem vai a nossa afectuosa saudação, o envio de um seu Delegado Especial, título com o qual, eu hoje tenho a honra de presidir a esta Eucaristia, bem como a alegria de estar aqui e rezar convosco.
Ainda existe um aspecto que liga a minha pessoa a este grandioso evento que estamos a celebrar. Como Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide), chamado a ocupar-me das missões, ou seja, do anúncio do Evangelho a todos os povos, não posso esquecer que a Diocese do Funchal desempenhou, durante estes cinco séculos, um papel muito importante no apoio à obra missionária, encontrando-se na rota para as Índias e África, então consideradas terras distantes, onde era necessário levar o Evangelho.
Quão grata é a Congregação de Propaganda Fide a esta Igreja local, por ter ajudado e apoiado milhares de missionários que passaram nestes ilhas antes do grande salto, com os navios da época, para a América, África e Ásia!
Fazendo, portanto, uma análise histórica e pastoral, Funchal desempenhou, naqueles tempos heróicos das missões, a importante tarefa, como escreveu o Papa Leão X na sua Bula de instituição da Diocese, de 12 de Junho de 1514, “Pro excellenti praeminentia” (isto é: pela extraordinária importância) em apoio à acção missionária da Igreja para as novas Terras que eram então abertas ao conhecimento e ao comércio. Em seguida, com o passar do tempo, com as novas organizações eclesiásticas e os demais modernos meios de comunicação e de transporte, a Diocese do Funchal concentrou-se particularmente sobre a sua natureza de Igreja particular no serviço aos seus fiéis, sendo hoje rica de 96 paróquias, dezenas de sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos activos na vida pastoral.
Neste contexto, pode-se agora compreender a dinâmica do plano pastoral trienal (2011-2014) desejado pelo Pastor desta Diocese em vista do jubileu que celebramos: “Diocese, Igreja em Missão”, com o objectivo de construir “Comunidades cristãs vivas e apostólicas”, fundadas no amor de “Deus Pai que acolhe e congrega os Seus filhos”; de “Jesus Cristo (que) caminha connosco e reparte o Pão”; e do “Espírito Santo que cria unidade e envia em missão”. Como bem diz o Catecismo da Igreja Católica, de facto, existe a Igreja e foi querida pelo Senhor para “anunciar e instaurar no meio de todos os povos o Reino de Deus inaugurado por Jesus Cristo” (Compêndio, n.150); a Igreja, portanto, “é, por sua própria natureza, missionária” (Catecismo n. 767).
Este aspecto da missionariedade da Igreja, como sabeis, é muito caro ao Papa Francisco, que o faz objecto de reflexão e de contínua exortação. Há uma semana, celebrando na Basílica de São Pedro a Solenidade de Pentecostes, o Santo Padre disse que naquele dia a Igreja nasceu “em partida para anunciar a todos a Boa Notícia”. E acrescentou: “é a Mãe Igreja, que parte para servir”. Já na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, que é um documento programático da sua visão eclesiológica, o Santo Padre escreveu: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-preservação” (n. 27). É por isso que posso dizer aqui, hoje, que a programação concebida pelo vosso Bispo, no triénio que termina com esta solene celebração, não é apenas em sintonia coma visão do Papa sobre a Igreja de hoje, mas também projecta a vida desta Diocese para uma nova dinâmica, onde estejam colocados todos “os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade” (Idem).
A Igreja particular que está no Funchal tem ainda a sensação de querer reavivar o espírito missionário, que tão significativamente a distinguiu desde o início da sua criação, e percebe ainda hoje a vocação estimulante de um novo e vigoroso empenho missionário. Não há nada mais significativo na vida de um cristão e de uma Igreja do que a sua própria vocação missionária. Porém, é necessário um novo e forte impulso não só nos métodos, mas também no ardor evangelizador, como bem costumava dizer o Santo Papa João Paulo II.
No entanto, para que o referido impulso possa ter efeito, é necessário também que cada cristão tenha uma fé profunda e que ame a sua fé; que dê um testemunho coerente numa sociedade multicultural em crise de valores morais e espirituais, em particular esta, caracterizada pelo fenómeno do turismo e pelas migrações. Estes são dois aspectos da nossa sociedade de grande relevância e de complexa acção. Portanto, o primeiro ambiente social em que é necessário reavivar a fé é o da família. Um ambiente que se torna dia após dia mais delicado, mas que é também “o lugar onde Jesus cresce”, disse o Papa Francisco, há poucos dias, aos membros da Renovação no Espírito, motivo pelo qual hoje existe uma tendência a debilitá-la e destruí-la. “Fidelidade, perseverança e fecundidade”, estes são os pilares de uma família que tem o seu fundamento em Cristo. Fidelidade ao amor que tem como referência o amor de Cristo pela Igreja; perseverança como elemento, como termómetro que indica o amor forte e incansável, assim como muitas vezes Jesus perdoa à sua Igreja, isto é a nós; fecundidade como sinal de vida e de vitalidade do casamento em si, como Jesus faz a sua Igreja ser sempre mãe. Onde a comunidade cristã é fecunda, aí o Senhor escolhe vocações para uma missão especial: vida de serviço aos irmãos e de consagração a Deus como dimensão de amor total a Ele e ao Evangelho. O que é que existe de mais profundo e alegre que ser capaz de dizer: teus pecados te são perdoados, isto é o meu Corpo, este é o meu Sangue? O que é que poderia ser mais agradável que ser capaz de consolar os aflitos e partilhar a sua cruz quotidiana, especialmente no serviço aos pobres e aos marginalizados, como bem ensinou Madre Teresa de Calcutá? Que os jovens se abram a este apelo e sejam generosos para com a voz do Espírito!
Em tal perspectiva, são bem oportunas as palavras do Evangelho de hoje (Jo 3,16-18), no qual Jesus explica a Nicodemos que Deus desde sempre, sem discriminação ou interrupção, “amou o mundo” e não quer que “ninguém se perca”, nem que o mundo seja “condenado”. Na lógica de Deus Criador e Pai de todos os seres humanos, toda a realidade é preciosa para Ele, e por isso envia o seu Filho unigénito para mostrar o seu amor eterno. O que Deus querpara nós éa “vida”; uma “vida eterna”, ou seja, expressão plena de Si. Deus é Deus de vida eterna.
Parece muito bonita a oração, ou melhor, a súplica de Moisés, cujas palavras ouvimos na 1a leitura desta Missa: “Se encontrei, Senhor, aceitação a vossos olhos, digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós”(Ex 34, 8-9). Moisés pensava num Deus que não é estranho, que não está em cima, longe e fora, mas que está “no meio” do seu povo! Neste tempo em que muitos gostariam que Deus ficasse fora do mundo e vivem a sua vida como se Deus não existisse, Moisés e a Igreja rezam: “Digne-Se o Senhor caminhar no meio de nós!” Mesmo que nós sejamos um povo de dura cerviz - reza ainda Moisés, e a Igreja com Ele, identificando-se em suas palavras - “Vós (oh Deus) perdoareis… e fareis de nós a vossa herança”.
Gostaria de concluir estas reflexões com uma exortação retirada da 2a Epístola de São Paulo aos Coríntios (2Cor 13,11): “Vivei com alegria… vivei em paz” e “o Deus de amor e da paz estará convosco”.
Irmãos e irmãs,como o amor trinitário de Deus, também o amor eclesial deve sair de si mesmo e doar-se aos outros. Em primeiro lugar, àqueles que não conhecem o amor de Deus, ou dele se encontram afastados, ou não se sentem humanamente dignos de serem amados, porque se sentem pecadores. Este é o vosso programa e o compromisso para os quais Jesus chama hoje a Igreja no Funchal!
Súplica final
E, por fim, irmãos, uma prece muito especial aos nossos Padroeiros:
Nossa Senhora do Monte e São Tiago olhai para esta Diocese que é vossa; velai pelos nossos emigrantes e quantos nos acompanham através da televisão, da rádio e da internet; abençoai e protegei todas as famílias, na sua união e fidelidade; abençoai e protegei as crianças e os jovens, os idosos, os doentes, os pobres, os desempregados, todos os que perderam a coragem de sonhar e de acreditar em Deus e nos homens. Que não lhes falte a saúde, a paz e a concórdia, o trabalho, o ânimo e a alegria da fé e da esperança para a vida de cada dia.
Os meus Parabéns, Igreja do Funchal!
Que o Senhor te faça, desde agora, caminhar neste milénio consciente do teu passado, plenamente convicta do teu presente e que te coloque missionariamente em direção ao futuro, ao serviço de Deus e dos irmãos.
Ámen! Assim seja!